16 de março de 2007

O Adeus

"Que sentimento é esse que temos quando vamos de carro e nos afastamos das pessoas e elas vão diminuindo de tamanho na planície até vermos as suas manchas dispersar? É o mundo demasiado grande a pesar-nos, é o adeus."

Jack Kerouac, On The Road

12 de março de 2007

Efémero

Limpei cuidadosamente o pó acumulado nos últimos meses ou anos. Aspirei o chão até os tacos de madeira se desprenderem, dei-lhes a simetria que mais me convinha. Obriguei os cd’s à ordem alfabética, tal como os livros, aos quais ainda arranquei páginas e dei as mesmas dimensões após confronto com uma faca. Na pausa, abri um pacote de m&m’s e separei-os por cores: os vermelhos, os amarelos, os verdes….olhei para eles, não comi. Voltei para o armário da roupa e para as gavetas, o quarto meticulosamente arrumado, organizado por cores, os vincos exactamente nos mesmos locais, peça a peça.
Pensei fazer um bolo. Separei as gemas das claras, mas ultimamente nunca consigo misturar os outros ingredientes, olho simplesmente para cada um deles nos seus recipientes. Acabo sempre com as gemas e as claras…gosto de separar os ovos, mas depois não faço nada deles, acabam como o resto e acabam comigo. Já nem os como mexidos, não suporto a ideia de não perceber onde está cada parte, no máximo estrelados. Tudo onde deve estar.
Agora, empoeiram-se toques, palavras e beijos que me dizes ao ouvido, acumulam-se no quarto. O aspirador cospe o que lhe apetece, os m&m’s baralhados, o armário e as gavetas voltam ao de sempre, cd’s e livros empilham-se em cima da roupa suja e limpa, já consigo fazer bolos e mexer ovos e não sei se isso é bom ou mau…

10 de março de 2007

...1ª parte vs. 2ª parte...

...sei que já debatemos sumariamente a temática, pelo menos eu e o aparelhito metalico que usa para tirar as miudezas às pessoas...

...mas continua a transcender-me... por que raio é que a "Anatomia de Grey" tem 1ª parte da 2ª série e 2ª parte da 2ª série?... porque é que não é só uma parte??

transcende-me!

2 de março de 2007

Um dia...

Um dia... Sim, um dia. Pouco importa quando, mas um dia. E quando esse dia chegar, vamos conseguir queimar os fios que de repente teimaram em enrolar-se em nós próprios. Vai ser nesse dia. Mas que dia é esse? Pouco importa. Pensa apenas que vai chegar um dia diferente daqueles que marcam o calendário da vida. Mesmo que penses que tal dia nunca vai chegar, vive apenas com a ilusão de que esse dia chegará. É a única forma de suportar o desconforto de mais um dia eterno ou o dia de mais um desconforto eterno, não sei. O que sei é que a única forma de não desistir é pensar nesse dia, talvez.

Mas qual dia? Pouco me importa, já disse. Deixa-me pensar nesse dia inexistente. Deixa-me ao menos viver com essa ilusão...

...a matemática do ómóssexo...

...há umas semanas, andava eu pelos meandros do bairro com uma colega de trabalho, o meu amigo Fá e o seu mais-ou-menos/futuro ex/agora-mais-do-antes/agora-ex namorado, quando se resolve acentar arraiais NO spot... "Clube da Esquina" de um lado, "41" do outro...

no meio do reboliço... (e para quem não sabe, esta é a definição de ajuntamento de bichesa)... eis que surge do meio da malta um conhecido - Tiago, Pedro, whatever... - não meio bebado, mas completamente; e que no meio de muita descoordenação de raciocínio acaba por dizer cinco palavras que causaram espanto... "não gosto de sessenta e noves!"

...como pessoas que presam o contacto físico, seja ele de que natureza desde que com qualidade e com a pessoa certa, ficámos espantados com tal afirmação vinda de alguém que sabemos ter o seu grau de promiscuidade acima da média...

explicação: aparentemente o jovem em questão sempre tinha "privado" machos de menores dimensões corpóreas... e subitamente fez-se luz... e cito "que piada é que tem ter alguém a lamber-nos o umbigo??"

vão para casa e pensem nisso!

Movimentos

Robert Frank, "US 285 New Mexico", 1955

Sempre estive parada e nunca me encontrei. Andei por sítios, não me mexi, não transumei. Agora também não sei onde ando, embora me sinta mais perto. Fiquei parada muitooooo tempooooo, mas achava que era feliz, fui feliz, a sério que sim, até deixar de o ser, até tudo parecer estático, ficar estático, morrer.
Sempre me apeteceu matar a tradição, a tradição é uma coisa que me enoja, é a pessoa de uma velha beata. O certo seria colocá-la dentro da ironia de um microondas e esperar que toda a agitação transformasse a velha beata numa grande puta (no fundo todos sabemos que as beatas são umas grandes fornicadoras de padres).
Matei um dado adquirido e sinto-me bem por isso. Para quê dar nomes às coisas? Elas são, simplesmente. Insistimos em dar-lhes nomes e deixamos que percam o sentido, ficamos demasiado tempo a perguntar-nos o que são e o que significam. Enquanto isso não vivemos, perdemos a intuição do tempo, deixamos que fujam. Nunca vou encontrar o que procuro, mas ao menos posso ir passando por mim numa e noutra estrada, lembrar-me de quem fui e felicitar-me pelas novas rugas. Essencial é não parar.

P.S. Não se preocupem, eventualmente voltarei ao normal.