19 de junho de 2007

A Noite Passada

A noite passada acordei com o teu beijo
descias o Douro e eu fui esperar-te ao Tejo
vinhas numa barca que não vi passar
corri pela margem até à beira do mar
até que te vi num castelo de areia
cantavas "sou gaivota e fui sereia"
ri-me de ti "então porque não voas?"
e então tu olhaste
depois sorriste
abriste a janela e voaste

A noite passada fui passear no mar
a viola irmã cuidou de me arrastar
chegado ao mar alto abriu-se em dois o mundo
olhei para baixo dormias lá no fundo
faltou-me o pé senti que me afundava
por entre as algas teu cabelo boiava
a lua cheia escureceu nas águas
e então falámos
e então dissemos
aqui vivemos muitos anos

A noite passada um paredão ruiu
pela fresta aberta o meu peito fugiu
estavas do outro lado a tricotar janelas
vias-me em segredo ao debruçar-te nelas
cheguei-me a ti disse baixinho "olá",
toquei-te no ombro e a marca ficou lá
o sol inteiro caiu entre os montes
e então olhaste
depois sorriste
disseste "ainda bem que voltaste"
Sérgio Godinho

gaivota...já abriste a janela e voaste...não olhes para trás

6 comentários:

gaivota disse...

=) A gaivota abriu a janela, voou mesmo com o fardo pesado do medo agrilhoado aos pés, mas ainda tem a mente muito adormecida no castelo de areia que a refugiou durante tanto tempo. E nesse castelo mora de facto uma "sereia" cujo cantar a fascina por vezes, como outrora sempre a fascinou, tendo sido durante tanto tempo a única coisa que conseguia escutar.

Mas o castelo é de areia, vulnerável a qualquer vento, mesmo que fraco e suave. Pode-se desmoronar a qualquer momento e às vezes acontece. Depois tenta reconstruir as muralhas quebradas por uma babelização conceptual qualquer (tinha de escrever isto ehehe)... Nem sempre consegue, mas é melhor do que trocar a areia por marfim. Aí seria impossível voar...

Só que não olhar para trás é impossível ainda... é mais forte do que a frágil gaivota...

****

Anónimo disse...

o pior é quando as gaivotas desfazem o castelo e depois lá querem voltar e já não podem...

mas enfim... as gaivotas são um bocado burras, não é?

gaivota disse...

:(

Aeternium disse...

o/a anonimo/a é o ovo mais podre...

TheyDontSleepAnymore disse...

o anónimo até tem razão quanto à parte do querer voltar. essas que querem voltar normalmente são as mais fracas, que acabam por morrer cedo ou ser violadas por um pardal. quanto a elas serem burras, é discutivel se o roto pode criticar o nu...

a carne do meu coração disse...

As gaivotas são aquele animal que partilha um ancestral comum com os anónimos, sendo que têm algumas diferenças a nível do fenótipo. Para isso passarei a uma breve descrição de ambos os animais:

gaivota: animal pertencente à classe das aves, corpo coberto de penas e asas que lhe permitem "voar".

anónimo: animal pertencente a classe dos mamíferos (ou mamá-li(a)), corpo coberto de pelos e com quatro patas que lhe permitem o estranho hábito de dar coices. Tem também a mania de zurrar acerca de coisas que não sabe...só sabe aquilo que lhe contam...e contam mal. O estranho é que costumam ter nomes como Jericó,Zacarias,Barnabé, mas este ainda não foi baptizado.