15 de abril de 2007

O sol entre as nuvens...

Vagueava pela rua sem prestar atenção ao que se passava em redor. Escutava apenas o silêncio... talvez o seu silêncio que mágica e involuntariamente conseguia espalhar pela realidade que o atormentava. Mas um pormenor despertou a sua atenção: nesse dia o céu não estava tão escuro como de costume, as nuvens tinham uma tonalidade mais clara e existia uma distância significativa entre elas. Subitamente, raios fortes e quentes de sol furaram as nuvens e incidiram na sua figura congelada pelo tempo.

Sentiu um calor estranho que o seu corpo não reconhecia mas que passava pelas inúmeras camisolas de lã que o cobriam. Sentiu uma luz demasiado forte nos olhos que se tentavam defender a todo o custo. Os seus movimentos pararam e o sol insistia em permanecer. Sentia-se a perder o controlo das sensações mais primárias que durante tanto tempo reprimira mas ao mesmo tempo, por mais receio que tivesse, o derreter do gelo sabia bem. E ali ficou durante horas e horas e horas e horas... até que o sol desaparecesse e tudo voltou ao normal, ao eternamente igual.

Apesar de recear a luz e o calor, soube-lhe bem. Pode ser que o sol regresse amanhã e depois e depois e depois. Pode ser...

3 comentários:

Aeternium disse...

...se pudesse ser amanhã, e depois...

só gostava que pudesse ser tão bom como o ar morno das condutas do metro numa noite fria... já só como o ar morno seria muito bom...

já serio qualquer coisa...

o gelo há de derreter... e havemos de nos afogar a todos...e vai ser tão bom


*

a carne do meu coração disse...

O gelo derreteu não só graças ao sol, mas ao calor que lhe saía de dentro. Ao fim de tantas frinchas o matreiro lá arranjou forma de escapulir... através do tempo. Teimou, porque sim, que sabe o que quer, quer crescer, precisa crescer mas não o deixam, só às vezes. Em certos dias quando se porta bem, dizem-lhe: "Calor, hoje podes sair". Ele não percebe, não percebe porque tem de passar a estação quente colocado no canto da sala com orelhas de burro, ele que só quer ser aspirado...
Já pensou mudar-se para os trópicos, ouviu dizer que lá todos os dias são de Verão. Felizmente repensou e agora anseia e teme o Verão, tem medo de atear fogos, mas pela primeira vez poderá ser aspirado e aspirar.

Aeternium disse...

o ar será tão quente e tão húmido que os peixes hão de entrar-nos a nadar pelas janelas...

***