6 de maio de 2007

A complexidade da simplicidade...

Queria oferecer algo simples e belo à minha mãe...escolhi, escolhi e acabei por comprar o ramo de margaridas mais ranhoso que alguma vez vi. Azar dos azares: só me apercebi disso em casa. Na altura pareceu-me bastante bem, mas quando acabamos de sair do incógnito e subir a calçada do(s) (es)combro(s) tudo nos parece bem...
Cheia de peso na consciência aqui fica o melhor que consigo a esta hora, o copy paste. Dedico este copy paste ao lugar comum, à minha mãe e a outras mães como a Sô Dona Manela, Sô Dona mãe da Flipinha, Sô Dona Francelina e Sô Dona Zabeta:

"POEMA À MÃE"

"No mais fundo de ti
Eu sei que te traí, mãe.

Tudo porque já não sou
O menino adormecido
No fundo dos teus olhos.

Tudo porque ignoras
Que há leitos onde o frio não se demora
E noites rumorosas de águas matinais.

Por isso, às vezes, as palavras que te digo
São duras, mãe,
E o nosso amor é infeliz.

Tudo porque perdi as rosas brancas
Que apertava junto ao coração
No retrato da moldura.

Se soubesses como ainda amo as rosas,
Talvez não enchesses as horas de pesadelos.

Mas tu esqueceste muita coisa;
Esqueceste que as minhas pernas cresceram,
Que todo o meu corpo cresceu,
E até o meu coração
Ficou enorme, mãe!

Olha - queres ouvir-me? -
Às vezes ainda sou o menino
Que adormeceu nos teus olhos;

Ainda aperto contra o coração
Rosas tão brancas
Como as que tens na moldura;

Ainda oiço a tua voz:
Era uma vez uma princesa
No meio do laranjal...

Mas - tu sabes - a noite é enorme,
E todo o meu corpo cresceu.
Eu saí da moldura,
Dei às aves os meus olhos a beber.

Não me esqueci de nada, mãe.
Guardo a tua voz dentro de mim.
E deixo as rosas.

Boa noite. Eu vou com as aves."

Eugénio de Andrade, Os Amantes sem Dinheiro

P.S. A alguns filhos destas mães: é favor levar isto muito a sério e nada de fazer pouco da minha pessoa pois tenho em minha posse provas bastante comprometedoras da noite passada.

3 comentários:

Aeternium disse...

=')

**** (sempre em numero par!!)

Anónimo disse...

No final do dia da Mãe foi surpreendida por este poema (lindo por sinal), não vou negar que as lágrimas brincaram nos meus olhos (sou uma torneira) e revi-me na relação com os meus filhos.
Sempre recusei o rótulo de mãe galinha, sempre achei que era uma mãe liberal, a prepará-los para o mundo sem os sufocar mas, estando sempre "ali".
Há alturas em que achei que falhei, mas há outras em que acho que cumpri na integra. Mas agora que os vou "perdendo" aos poucos, em que um já deixou ser o "menino adormecido nos meus olhos" e o outro já lhe quer seguir as pegadas, sofro com a ausência ainda não concretizada e sei que um vazio irá encher os "quartos" do meu coração. Por isso se permitem as outras mães (acho que posso falar por elas) aqui vai o melhor que posso e sei...

Olho para ti filho
e vejo que cresceste
que te perdes nas noites,
nos copos,nos sitios que não conheço

As asas cresceram
e tu já voas...
Mas no fundo de mim não quero...

Quero saber como vais
sem medo da resposta
quero saber dos teus passos
sem perguntar...

Quero que vás
sem partir...

Mas quero que saibas
que vás para onde fores...
que faças o que fizeres...
haverá sempre um olhar
em que podes adormecer.

Um beijo do tamanho do mundo (para os filhos destas mães)e para os meus

Mãe Manela

a carne do meu coração disse...

No fundo as nossas mentes perturbadas sabem que têm sempre um colinho com que podem contar, um olhar em que podem adormecer...
Tendo em conta a pessoa querida e maravilhosa que é o menino dos seus olhos (o que melhor conheço) também acho que cumpriu na integra.
Beijinhos grandes